Conjunto de pequenos textos escritos durante a minha estadia na Índia, entre setembro 2017 e janeiro 2018.
Buscando a Unidade desde dentro.
Quando eu estou inteira e plena,
Então o meu amor pode transbordar e tocar as pessoas e o mundo à minha volta.
Viajantes que se cruzam. Origens tão diferentes, culturas distintas, formas próprias de lidar com os desafios e as surpresas. Percursos de vida distintos, pontos de partida para esta viagem também distintos. Por onde passamos, o que escolhemos, quanto tempo ficamos - todas as possíveis conjugações.
Ainda assim, há algo profundo em comum nestes viajantes, nos quais me incluo: o não conformismo com uma vida reduzida a alguma forma de materialismo. Uma busca sincera de algo Maior! De um bem-estar que vem de dentro e permanece. De uma conexão com a Verdade da Vida! O recuperar de uma magia que sabemos ou intuímos existir!
Para que os nossos corações e a nossa alma se tranquilizem e sorriem! Para que a nossa Vida tenha Sentido!
Estou em Tiruvannamalai, Tamil Nadu (sul da Índia), onde viveu Ramana Maharshi. Nesta etapa, decorridos 2 meses e meio desta viagem, é tempo para DESCANSAR
Internamente. Sem cursos, sem aulas, sem programas, sem planos; sem intenção ou necessidade de os encontrar; e portanto, sem expectativa ou necessidade de determinado resultado. E é tão
maravilhoso estar neste estado!!! Liberdade plena para escutar as sensações e emoções e agir momento a momento sem pressão. Para acolher os imprevistos, as surpresas, os diferentes humores! Para
me focar no meu Ser com menos distrações.
O Yoga está presente e enraizado nesta atitude!
Quase sem me dar conta, volto uma e outra vez a um estado de presença e vibração mais rotineiro, trivial, básico, o lado mágico da vida parece menos real, a mente perde-se na teia de pensamentos.
E depois, inesperadamente, a janela da magia e do sagrado volta a abrir-se, os sentidos apuram-se e sinto-me e expresso-me com outra sensibilidade, outra força.
A aparentemente simples visita a um templo - descalçar os sapatos, contornar o recinto do templo e sentir o calor das pedras nos pés, admirar a estátua de alguma divindade na sua forma e decoração, receber as bênçãos do "padre guardião" -
transforma-se num reencontro com a minha alma, com algo profundamente genuíno e poderoso e belo presente no meu Ser e que me conecta à Grande Vida!
Uns instantes curadores e nutridores em que a minha mente não resiste nem tão pouco duvida do Mistério, em que o meu coração reina e guia a minha voz em preces de luz e fé!
Assim se expressou hoje em mim mais uma vez a Vida! Aho!
"It's not about me"! - a pessoa individual com as suas necessidades e motivações próprias é muito menos importante que na nossa cultura "ocidental". Às vezes sinto como se não tivesse importância nenhuma!! Parece haver sempre uma realidade maior, uma visão mais ampla de conjunto, e que se estende no tempo para além do momento concreto presente, palpável e visível.
Não sei bem explicar... É estranho porque é diferente do que conheço, porque uma cultura leva tempo a conhecer e compreender...
Mas neste desafio que é dar menos importância ao que eu (acho) que preciso, de estar menos apegada ao que eu acho que deve acontecer, vou descobrindo o sentido de união,
a bênção de pertença e diluição numa humanidade maior,
a paz de soltar as expectativas, exigências, ideias e preconceitos de como as "coisas" devem ser,
o descanso de não ter que saber a resposta ou acção certa em cada momento,
a confiança na vida, com toda a sua imprevisibilidade e aparentes contradições!
O que não faz sentido agora, fará sentido no momento certo! Há Forças Maiores que sabem melhor que eu e que tomam conta!
E mais uma vez, a clareza de que é por estas aprendizagens que aqui estou. Este é o Yoga que busco.
4° dia dum retiro especial - festival hindu Navaratri
Numa pequenissima aldeia nos Himalayas, Netala, a 8 km da cidade de Uttarkaschi, a 6 longas horas de Rishikesh em estrada de montanha. Estou num ashram - organização Purna Vidya, num local lindo e super tranquilo, mesmo à beira do rio Ganges.
Este festival de 9/10 dias é dedicado a celebrar a deusa Durga, o poder feminino mais poderoso, nas suas várias expressões, sendo uma das mais significativas a MaGanga (Deusa Mãe Rio Ganges).
O programa é conduzido também por um poder feminino, uma swamini (monja), e inclui sessões de Vedanta, para reflexão sobre a essência da vida. Na maioria, consiste de rituais - como diz a swamini, não é um intensivo de yoga, é um intensivo de rituais! Estamos horas no templo a invocar, celebrar, agradecer as deusas e os deuses, como expressões da Grande Vida ou do Grande Poder que é a fonte de tudo. Rituais ricos de significado, em que cada gesto, cada objecto, cada palavra e mantra tem um sentido. De tão misterioso e intenso, aos meus olhos tão extraordinário e exótico, torna-se por vezes quase num transe. E muito genuíno, com profunda alegria. Muita fé!
Está a ser uma profunda aprendizagem de abertura ao desconhecido, de deixar de lado a razão e conectar com o sentir. De viver o tempo doutra forma, aprender a não pressa, a fluidez que nasce de estar totalmente entregue na ação, sem dúvidas, sem receios, sem culpas. É impressionante o descobrir que há tempo para tudo.
Palavras de orientação sábia que recebo com gratidão e humildade da Swamini:
Enjoy!
All is well!
Dance through Life! Flow with Life!
Não me sinto só, não é possível. Estou muito bem acompanhada, por pessoas queridas e por uma energia de fundo de muito amor e suporte, com o poder da mãe natureza!
É uma bênção estar aqui, um enorme privilégio, estou enormemente agradecida!!
Sinto finalmente que cheguei a esta terra, a esta cultura, a esta gente! Que o coração, que agora se sente seguro, relaxa e se abre. E deste lugar relaciono-me com as pessoas de forma mais fluída e positiva. Que bom, que paz!!!
Naturalmente os desafios vão surgindo, haverão os inevitáveis momentos duros, mas tenho chão!!